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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

GERALDO RAMIERI

( Brasília – Distrito Federal )

 

Nasceu e vive em Planaltina, cidade-satélite de Brasília, há pouco mais de vinte anos [isso em 2005].
Formado em História, começou a interessar-se pela poesia e depois pelo conto. É colaborador da revista Poesia para todos.

*

Ingressou na Academia Planaltinense de Letras, Artes e Ciências (APLAC) em 2019.

 

VOZES NA PAISAGEM: Antologia de poetas brasileiros contemporâneos I. Org.          Waldir Ribeiro do Val.  Rio de Janeiro: Ed. Galo Branco, 2005.  140 p.        Ex. bibl. de Antonio Miranda

 

MUTILADOS CIDADÃOS MODERNOS

Jogaram pedaços de homens pelas janelas
Muitos e muitos pedaços, ainda pulsantes e ensanguentados
Mãos, pés, olhos, orelhas, narizes, cérebros, ventres, genitálias...
Lançados pelas janelas dos altíssimos prédios
Na avenida, nos transeuntes, apressadamente atravessando a
avenida
Pelas janelas jogaram pedaços de homens
Que também era de mulheres, andróginos pedaços de homens
Continuando a cair sobre os passantes, robóticos caminhantes
Sempre seguindo a dissonante sinfonia de ruídos:
Buzinas, rangidos, palavras, gritos, suspiros ofegantes...
Sem cessar jogavam das janelas homens em pedaços
Na multidão de homens, atingidos por seus próprios pedaços
Um braço caiu num carro, um pescoço numa vitrine
Um fígado descamba no semáforo, um rim num outdoor
Um siliconado seio espatifa-se ao bate no meio-fio
Sobre apressados homens, inúmeros pedaços, retalhos de homens
Mas ele nada disso percebem, prosseguindo em seus caminhos
Adulterados caminhos de sanguinolentos despedaçados homens
Despedaçadamente indiferentes apedaçados msutilados homens
Mas parece que todos já se acostumaram com o sangue, seu sangue
Parece que ninguém vê isso, parece que só eu bestificado parei
Só eu me assusto, só eu olho para o algo, só eu estou limpo...
Até que um pedaço caiu sobre mim, sujando-me de sangue
Era um coração, meu arrancado coração de homem
E no mesmo instante surgiu diante de mui uma menina cega
Que me sorria, mantendo-se limpa, apesar de tanto sangue
E que subitamente catou meu coração, o colocando numa sacola
Junto com outros corações de homens, e que sorrindo foi-se embora
Não sei quem jogava, mas do alto jogavam pedaços de homens
Sobre despedaçados homens, os seus muitos e muitos pedaços
Jogam pedaços de homens, nossos arrancados pedaços pelas
janelas...

*

VEJA e LEIA  outros poetas do DISTRITO FEDERAL em nosso Portal:

 

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Página publicada em dezembro de 2021


 

 

 
 
 
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